
Láquesis
2024 - 2025
Láquesis é uma incursão visual pela estética da transmutação e da coexistência em um mundo que oscila entre o natural e o artificial. Por meio dos textos e esculturas vestíveis materializados por Paul Parra, somado ao olhar poético das lentes de Cintia Rizoli, cada imagem apresenta fragmentos de um cenário profundamente marcado pela ação humana, mas também permeado por resiliência e renovação.
Armadura de Quitina
Nas profundezas de um formigueiro esquecido, sob as raízes de uma árvore em ruínas, vivia uma saúva-soldada, última de sua linhagem. Forjada não apenas pela biologia, mas também pelo engenho humano, sua existência era um tributo à força e à resistência. Em um passado distante, quando as formigas biológicas desapareceram pelas mãos do desmatamento e da destruição, os homens criaram as saúvas-ciborgue, misturando metal e código com vida orgânica, na tentativa de restaurar o equilíbrio entre a cidade e a floresta. No entanto, como sempre, a ganância e o descaso os levaram a desrespeitar suas próprias criações, até que as extinguiram sem compaixão.
Mas uma delas sobreviveu. A saúva-soldada, a mais forte de sua colônia, guardava com devoção a Rainha, sua essência ligada à força de Ogum, o orixá da guerra e da proteção. Em suas fibras metálicas pulsava o legado da batalha, e sua mandíbula, capaz de cortar aço, era um símbolo do poder divino. Rejeitada pelo mundo dos homens e abandonada por suas origens artificiais, ela fez do formigueiro seu templo e jurou que nenhum humano jamais pisaria em seu território novamente. Ao detectar o menor sinal de intrusão, seus sensores cibernéticos ativavam armadilhas, desativavam drones e paralisavam máquinas com descargas eletromagnéticas.
Revolta e determinação conduziam cada um de seus passos. Para ela, a sobrevivência da Rainha representava mais do que a continuidade do formigueiro: era a última chama de um equilíbrio entre natureza e tecnologia que os humanos haviam traído. Sua figura, uma mistura de biologia e aço, assombrava aqueles que ousavam se aproximar da floresta. Dizem até hoje que sua carapaça reluz sob a luz da lua como uma armadura divina, e que seus olhos brilham como fornalhas, lembrando que a força de Ogum não se curva à injustiça. Assim, a saúva-ciborgue luta, não apenas por sua Rainha, mas pelo respeito à vida que os homens há muito esqueceram.
Materiais utilizados para a confecção da obra:
Corpo:1 vestido velho, sobras de tecido e 7 latas de alumínio
Base do abdômen: Sacos plásticos, espuma de louça, edredom, elástico de roupa, fechos de mochila e alfinetes
Armadura: Corda, arame de lacre, arame e fita de poliéster
Capacete: Caixa de leite (aproximadamente 15 caixas de embalagem Tetra Pak), espelhos de bicicleta, arames, cooler de computador, linha de silicone, clips e partes de barbeador elétrico.
Confira abaixo o áudio com a descrição da obra e materiais utilizados:


O catálogo Láquesis apresenta uma narrativa visual ecoartística que combina esculturas vestíveis e registros performáticos, celebrando a fusão entre arte, moda e sustentabilidade. Com uma estética que dialoga com a efemeridade do tempo, ele oferece um mergulho poético na criação das peças, na mitologia dos ciborgues e no cenário de ruínas desse projeto singular.

Exposição Ecoartística Láquesis
A exposição Láquesis apresenta um conjunto de esculturas vestíveis, performances e instalações que exploram as interseções entre natureza, humano, o não-humano e as tecnologias. Inspirado na mitologia grega, o projeto evoca a figura de Láquesis, uma das Moiras responsáveis por medir o fio do destino, como símbolo de nossa capacidade de transformação dentro dos limites impostos pelo contexto em que vivemos.
Cada peça da exposição é concebida como um híbrido: uma fusão de materiais orgânicos e industriais, evocando corpos ciborgues que ressignificam o lixo e o descartável. As esculturas vestíveis tornam-se veículo para questionar os impactos das ações humanas sobre o planeta. A presença dos performers interage diretamente com o público, criando um espaço dinâmico e imersivo que nos desafia a reconsiderar nossas relações com o ambiente.
Realizada em Sorocaba, uma cidade marcada por suas contradições entre o urbano e o natural, a exposição utiliza a geografia local como palco e contexto. As peças dialogam com a história, geografia e meio-ambiente da região, propondo uma experiência além da contemplação: um convite para habitar com todos os problemas do presente e imaginar alternativas para o futuro.
A exposição fica em cartaz de 15/02 a 15/03 de 2025, no Parque dos Espanhóis, localizado na R. Dr. Campos Salles, S/n - Vila Assis, Sorocaba - SP.
Equipe Láquesis
Texto, arte, concepção e produção geral: Paul Parra
Fotografia: Cintia Rizoli
Assistência de criação e visagismo: Irá Rogenski
Design: Tiago Rodrigues
Direção cênica e audiodescrição: Helena Agalenéa
Registro documental: Heitor Pereira
Modeles / performers: Gabriel Franco, Luanda Marcondes, Ayanna Xavier, Alien Lima e Wesley Sampaio
Produção administrativa: Sérgio Frazatto
